HISTÓRIA DO PSICODRAMA: Da evolução do criador à evolução da criação

História do Psicodrama - Da evolução do criador à evolução da criação¹

Autora: Leonídia Alfredo Guimarães (1998)



O Criador do Psicodrama
Jacob Levy Moreno nasceu em Bucareste, na Romênia, em 18 de maio de 1889 e faleceu em Beacon, nos Estados Unidos, em maio de 1974, no Instituto Moreno de Nova York. Era descendente de família judia, oriunda da Península Ibérica. Seu pai era judeu de origem espanhola e sua mãe eslava. Jacob Levy Moreno era o primogênito entre seis irmãos. A família emigrou sucessivamente para a Turquia, Mar Negro e para as margens do Rio Danúbio, local onde Moreno viveu até os cinco anos de idade. Em 1895, a sua família radicou-se na Áustria, em Viena, onde Moreno estudou Filosofia e Medicina e desenvolveu as suas primeiras experiências com o Teatro Espontâneo, até o ano de 1924.


Concepção do Psicodrama
Moreno conta que aos quatro anos e meio organizou uma brincadeira com algumas crianças no porão da sua casa, empilhando cadeiras sobre uma mesa, até o teto, para brincar de ser Deus : seus amigos faziam o papel de anjos e incentivavam para que ele voasse até o chão, ação dramática assumida pelo pequeno protagonista embalado pelos sonhos de ser Deus. O resultado imediato foi uma fratura no braço esquerdo. Essa experiência psicodramática é sentida pelo autor como uma Cena precursora da criação do Psicodrama. Moreno ao mesmo tempo em que dirige a cena, transforma-se em autor e ator do drama. Seu público compartilha e estimula o protagonista à ação. A experiência marca e a ideia germina na adolescência.

Durante a adolescência (1908-1911), Moreno apaixona-se pelo teatro, pela filosofia e por trabalhos comunitários de recreação. Lê Rousseau, Pestallozi , Froebel e gosta do contato com pequenos grupos de crianças, nos jardins de Viena, onde propõe e improvisa brincadeiras, distribuindo-lhes papéis. A experiência oferece-lhe estímulos para que realize em 1911, no Kindergarden, um Teatro de Crianças a sua primeira sessão de Teatro Espontâneo, ainda como estudante.

Em 1909, Moreno ingressa na Universidade de Viena, primeiro como estudante de Filosofia, depois de Medicina. Faz aulas de psiquiatria e psicanálise com Freud, mas não se identifica à teoria freudiana : conta que num rápido encontro com Freud, após uma aula sobre a Interpretação dos Sonhos, foi questionado acerca das suas ocupações e lhe respondeu o seguinte:

“ O Senhor vê as pessoas no ambiente artificial do seu Gabinete. Eu vejo-as na
rua, na casa delas, em seu ambiente natural. O Senhor analisa os sonhos das
pessoas. Eu procuro dar-lhes mais coragem para que sonhem de novo. Ensino
as pessoas a como brincarem de ser Deus” (Moreno, 1978, p.54).

Ao que parece, a irreverência de Moreno para com os modelos sociais estabelecidos vai lhe permitir a concepção da sua idéia original; mas, em contrapartida, ele passou anos a fio aprimorando-se profissionalmente para assumir oficialmente o seu papel de psicoterapeuta e ser finalmente aceito no meio científico. 

Enquanto esse momento não chega Moreno vive, experimenta, confunde-se nos papéis de criador – criatura- cidadão, mas não desiste: Entre 1913 e 1914, realiza a sua première como estudante de psiquiatria, participando de um trabalho com um grupo de meretrizes do Spittelberg, bairro de Viena, assistido por um médico e um psiquiatra psicanalista.

Em 1914 Moreno formula o seu Convite a um Encontro no poema Divisa, onde já podemos ver alguns dos conceitos básicos estabelecidos posteriormente para o Psicodrama: a psicoterapia frente a frente, centrada no aqui e agora; a postura de contato direto e caloroso com o paciente; e a técnica de inversão de papéis:


Divisa
Mais importante do que a ciência, é o seu resultado,

Uma resposta provoca uma série de perguntas.
Mais importante do que a poesia, é o seu resultado,
Um poema invoca uma centena de atos heróicos.
Mais importante do que o reconhecimento, é o seu resultado,
O resultado é dor e culpa.
Mais importante do que a procriação é a criança.
Mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador.
Em lugar de passos imperativos, o imperador.
Em lugar dos passos criativos, o criador.
Um encontro de dois : olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancarei teus olhos
E os colocarei no lugar dos meus;
E arrancarei os meus olhos
Para colocá-los no lugar dos teus
Então ver-te-ei com os teus olhos
E tu me verás com os meus.
Assim, até a coisa comum serve ao silêncio
E o nosso encontro permanecerá a meta sem cadeias:
Um lugar indeterminado, num tempo indeterminado
Uma palavra indeterminada para um homem indeterminado.
(Moreno, 1978, p.3)


De 1915 a 1917 Moreno realiza um outro trabalho de grupo, dessa vez no campo de Mittendorf, com soldados tiroleses, refugiados em Viena. Após este trabalho concebe algumas idéias a respeito das estruturas grupais e do efeito terapêutico do grupo sobre o indivíduo.

Em 1917, após formar-se em medicina, Moreno publica a revista Daimon, tendo como colaboradores alguns membros do movimento expressionista vienense: Franz Kafka, Martin Buber, Max Scheller, Francis James, Jacob Wasserman, Arthur Schmitzler e Franz Werfel. Moreno mantém a publicação da revista Daimon até 1920 e nela publica as suas primeiras experiências e principais idéias.

Conta-nos Moreno que no início da sua carreira, não conseguia conter o seu desejo messiânico de recriação do universo social e de construir um palco para expurgar as dores e os sofrimentos dos pequenos grupos. Admirava Marx, pela sua preocupação social e humanística em relação ao povo, mas criticava-o por haver esquecido o cidadão enquanto indivíduo. 

Moreno era, então, um socialista convicto e atuante, embora não adepto à massificação da sociedade. Dirigia sua energia para questões sociais, sem esquecer-se nunca da própria existência e da significação do indivíduo, que deseja ser libertária, espontânea e criativa. 

Parece profundamente religioso ao citar Cristo, Buda, Maomé e Gandhi, porém critica os existencialistas profetas que, do seu ponto de vista, não conseguiram consolidar a sua própria existência e morreram prisioneiros dos seus ideais, a exemplo de Nietzsche e Kierkegaard. 

Moreno admira e reconhece como verdadeiros representantes do existencialismo, um grupo que estava inserido no seu contexto histórico - social, surgido no período de 1900 a 1920 em Viena, e que praticava a filosofia do Seinismo segundo a qual, Ser e Saber são condições inseparáveis, influindo-se mutuamente. Esta filosofia, também chamada de Hassidismo, é originária da Cabala e do Judaísmo místico. Reúne numa só realidade a existência e o pensamento, e defende que além da existência de um Deus cósmico, presente em cadapessoa enquanto centelhas divinas, há de se preservar  a manutenção do fluxo natural e espontâneo da existência e a importância de viver-se o momento presente, sem ater-se ao passado ou ao futuro, bem como a importância da liberdade, espontaneidade e criatividade (Guimarães, 1991).

A filosofia do Hassidismo aproxima-se em alguns aspectos das idéias de Bergson sobre o élan vital e da teoria do Eu e Tu de Martin Buber. Mas, ao mesmo tempo, diferenciam-se : O Deus de Moreno não é um Deus-Tu, um Deus-Ele é um Deus-Eu igual a si mesmo, presente nele e por isso em relação direta, não hierárquica, inseparável, transcendente,tipo : “Eu sou Deus” e, que lhe permite falar pelo outro (sua ideia do Duplo Eu). Moreno escreve na orelha do seu livro Psicodrama: “Deus é espontaneidade. Daí o mandamento: Sê Espontâneo” (Fonseca, 1980); Guimarães, 1991).

O Hassidismo é então a filosofia de base de Moreno e do Psicodrama, pois são desses conceitos gerais que o autor formula posteriormente a teoria da Espontaneidade e Criatividade. 

Pode-se verificar a influência de outras correntes filosóficas, como a fenomenologia de Husserl e o materialismo histórico de Marx, na medida em que o psicodrama, a sociometria, a psicoterapia de grupo e a proposta da Socionomia, enquanto ciência integradora dos seus princípios teóricos vão estabelecendo o contorno dos métodos psicodramáticos e psicoterapêuticos (Guimarães, 1991).

Em 1920, Moreno publicou o seu primeiro livro Das Testament des Vaters e depois, realizou o seu 1º Ato Público Psicodramático, no Komoedien Haus, um teatro de Viena,  no dia 1 de abril de 1921, dia dos loucos, na Áustria, dia da mentira, para nós. Neste evento, realizado no período de pós guerra, com o governo austríaco em plena desordem, Moreno propôs como tema protagônico a escolha do rei da Áustria e conseguiu vários voluntários para encená-lo. Mas o público não elegeu nenhum dos Reis representados, o que deve ter sido bastante frustrante para Moreno, levando-se em conta inclusive que ali estavam sendo lançadas algumas bases para o enquadre do Sociodrama (Marineau, 1992).

Moreno persegue as suas idéias e projeta no ano seguinte (1922), com a ajuda do seu irmão William, um Teatro da Espontaneidade (Das Stegreiftheater) em Viena, passando a realizar improvisações espontâneas com um grupo de atores profissionais, até descobrir que a representação espontânea de situações da vida cotidiana produzem efeitos terapêuticos (1924) . 

A história que Moreno nos conta é que uma das atrizes que freqüentava o teatro com o marido, e que elegia sempre papéis dóceis e carinhosos para representar, era segundo este, uma verdadeira megera na intimidade do lar. Intrigado com esta incongruência, Moreno passou a dar-lhe papéis opostos aos que vinha representando. Soube posteriormente, através do marido dessa atriz, que ela tornara-se mais calma e carinhosa em casa. Descobriu, dessa forma, os efeitos terapêuticos do manejo técnico do teatro espontâneo e passou a designá-lo de Teatro Terapêutico. Moreno atribuiu a essa atriz o nome de Bárbara e ao marido, o nome de George, para citar o seu primeiro Caso Clínico (Psicodrama, 1978).

Nessa época o trabalho de Moreno consistia em dirigir peças espontâneas a partir de temas escolhidos pelo grupo. Costumava usar a leitura de jornais do dia para escolha e dramatização de matérias com as quais o grupo se identificasse. Essa técnica ficou conhecida com o nome de Jornal Vivo.

Ao sair da Áustria, em 1925, Moreno já dispunha de vários recursos técnicos para desenvolver o Psicodrama : o setting da sessão e algumas técnicas, como a inversão de papéis e o duplo, que já haviam sido bastante exploradas e testadas, e indicado o seu valor terapêutico. 

ano de 1924 fez, então, duas revelações a Moreno: uma relativa ao valor terapêutico da dramatização espontânea e da inversão de papéis; e outra de alerta, quanto ao uso desses métodos sem enquadre clínico. Mas, podemos considerar concebida a metodologia do Psicodrama (Marineau, 1992).

Neste mesmo ano de 1924 foi editado o livro  O Teatro da Espontaneidade. Neste livro, Moreno definiu quatro enquadres psicodramáticos: o Axiodrama, enquadre em que o público assume o papel de instigador sistemático para desvendar a Cena a partir da pessoa privada do ator, derrubando as suas máscaras e conservas culturais; o Teatro de Improviso, em que o drama é encenado da forma como surge, com atores e protagonistas espontâneos; o Teatro Terapêutico, no qual existe um conflito a ser trabalhado e as pessoas representam a própria vida; e o Teatro do Criador, mais próximo ao que mais tarde ficou conhecido pelo nome de Psicodrama Individual. Moreno projeta também nesse livro, o seu palco psicodramático e refere os caminhos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama terapêutico (Marineau, 1992).

Para além do marco do 1° Psicodrama Público, realizado em 1/04/1921, podemos tomar  o período de 1922-1924 como de estruturação do método do Psicodrama, na mesma Viena de Freud e em plena efervescência da Psicanálise. Com certeza, não era este o contexto histórico e cultural propício à J.L.Moreno e ao desenvolvimento do Psicodrama.

Evolução do Criador e sua criação
Em 1925 Moreno muda-se para os Estados Unidos e instala-se em Beacon, Nova York. Em 1927 casou-se com Beatrice Beecher e passa a assumir sucessivamente os papéis sociais para os quais fora preparado : abre uma Clínica Psiquiátrica, anexa à sua residência e realiza no ano seguinte a sua primeira demonstração pública do Psicodrama, no Carnegie Hall, onde passa a dirigir sessões de Psicodrama Público, três vezes por semana, até 1931. 

Neste mesmo ano, publica a Revista Improviso, abordando sobre os seus métodos de psicoterapia de grupo e paulatinamente vai encontrando apoio às suas ideias, participando de Conferências e fazendo demonstrações do seu trabalho em Escolas, Igrejas e Universidades. 

Em 1932, apresenta-se em Filadélfia, no I Congresso de Psiquiatria da Sociedade Americana, comunicando os resultados do trabalho que realizara com os prisioneiros de Sing Sing, baseado no seu trabalho de grupo com os refugiados tiroleses, entre 1915-1917, ainda em Viena, denominando- o de Psicoterapia de Grupo. Com isso, compra briga com Slavson, líder americano da psicoterapia de grupo e segue adiante, dedicando-se a realizar uma pesquisa sobre as relações interpessoais na Comunidade de Hudson, com jovens delinqüentes. 

Em 1932 encontra, também,  a colaboração de Helen Jennings, que na época era orientanda de Gardner Murphy no Curso de Pós-graduação na Universidade de Colômbia, abrindo-se dessa forma uma grande rede sociométrica para Moreno no campo da Psicologia Social e da Sociologia.

 Em 1934 publica o livro Quem Sobreviverá? reeditado posteriormente com o nome de Fundamentos da Sociometria (Marineau, 1992).

Consolidação do Psicodrama e da Sociometria
Os Fundamentos da Sociometria são bem acolhidos pela comunidade científica americana, praticados e desenvolvidos. Moreno é convidado a ensinar na Universidade. A partir de 1934, torna-se cidadão americano e, em 1936, abre um Hospital Psiquiátrico em Beacon, realizando trabalho com psicóticos em comunidade terapêutica. Anexo ao Hospital, passa a funcionar, também, a partir de 1941, o Instituto  de Psicodrama de Nova York,  freqüentado por psicoterapeutas do mundo inteiro, em busca de formação. 

A partir desse estágio de reconhecimento e consolidação do seu método, J.L.Moreno dedica-se à transmissão desses conhecimentos que descobriu e formulou durante todo o desenvolvimento da sua teoria e prática, e passa a autorizar seus formandos a proceder a formação de outros Psicodramatistas nos seus países de origem, conferindo-lhes o título de Diretor de Psicodrama

Funda, também, a Associação Americana de Sociometria e torna-se membro da Associação Psiquiátrica Americana. Vários Congressos de Psicodrama são organizados em diversos países e em 1968, Moreno recebe o título de Doutor Honores Causa, pela Universidade de Barcelona (Marineau, 1992).


Disseminação do Psicodrama
A partir de 1946², o Psicodrama de Crianças começa a expandir-se na França, através do Centro Claude Bernard, a cargo de Jean Delay, Fouquet e Mireile Monod, que têm como colaboradores André Berge, Henri Buchene, Françoise Dolto e Serge Lebovinci (Anzieu,1981).

Em 1950, ainda na França, o Psicodrama se bifurca, dando origem ao Psicodrama Triádico e ao Psicodrama Analítico. Segundo Didier Anzieu, formam-se quatro principais correntes:

 A de Serge Lebovinci, que confronta os métodos morenianos à psicanálise individual, e que  fracassa;
 A de Gravel e Bourreau que adotam as reformas de Mireile Monod, segundo as concepções de Slavson;
 A de Anne-Marie Spenh, que conserva a noção de papel e representação dramática; e
 A de Anne-Ancelin Schutzenberg e Didier Anzieu, representantes, em Paris, do Psicodrama Triádico e do Psicodrama Analítico, respectivamente. Ambos se baseiam nas noções teóricas de Jacques Lacan, considerando a representação dramática como uma
estrutura, fazendo-a intervir no campo do Imaginário. Não adotam o modelo teórico proposto por Jacob Levy Moreno, apenas o seu setting terapêutico (Anzieu, 1981).


Em 1954, Moreno realiza a sua primeira demonstração pública do Psicodrama na França, por ocasião do I Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo. E em 1960, faz o mesmo na Rússia, ano em que publica também, o seu livro Psicoterapia de Grupo e Psicodrama.

Em 1962, o Psicodrama chega ao Brasil através de Pierre Weil, titulado Psicodramatista na França, com Anne-Ancelin Schutzemberg, formada no Instituto de Nova York,  por J.L.Moreno. Pierre Weil radicou-se em Belo Horizonte e adotou a linha do Psicodrama Triádico, abrindo um Núcleo de formação em Psicodrama. Depois, passou a trabalhar com abordagem transpessoal desenvolvendo o que passou a   chamar de Cosmodrama (Guimarães, 1991).

Em 1963 o Psicodrama começa a difundir-se na Argentina, através de Jaime Rojas-Bermúdez³, que após receber o título de Diretor de Psicodrama no Instituto de Nova York, passou a desenvolver Cursos de formação em Psicodrama Terapêutico e Aplicado, na Associação Argentina de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo - AAPGP. Outros Diretores de Psicodrama, fizeram o mesmo e o Psicodrama chega na Venezuela, através de Robert Fontaine e Fernando Risques; no Peru, através de Dalida de Platero e no Uruguai, em 1970, através de Raymondo Dinello (Rojas-Bermúdez, 1970).

Entre 1969 e 1970 o Psicodrama desenvolveu-se rapidamente, tanto na Argentina, sob a liderança de Jaime Rojas-Bermúdez ( AAPGP ) quanto no Brasil, inicialmente por intermédio de Rojas-Bermúdez e através de Alfredo Correia Soeiro, formado por Rojas-Bermúdez, que mantinha em São Paulo o Grupo de Estudos de Psicodrama - GEPSP.

Nesse período, após o IV Congresso Internacional de Psicodrama, realizado em Buenos Aires, surgiram as divergências teóricas nos dois grupos liderados por Rojas-Bermúdez, criador da Teoria do Núcleo do Eu - Esquema de Papéis. As duas associações foram cindidas: Na Argentina, foram criados vários Institutos de Psicodrama. No Brasil, o antigo grupo do GEPSP foi extinto. Alguns membros criaram a Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama –ABPS, que inicialmente permaneceu vinculada à Rojas-Bermúdez; e outros membros criaram a Sociedade de Psicodrama de São Paulo – SOPSP, que passou a vincular-se a outros Institutos de Psicodrama criados na Argentina.

No Nordeste do Brasil, principalmente em Salvador, o Psicodrama começou a desenvolver-se através da criação da Associação Baiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo - ASBAP, fundada em 08 de abril de 1976 pelo psiquiatra Waldeck D'Almeida, formado na Argentina por Rojas - Bermúdez, em Buenos Aires. Waldeck D' Almeida assumiu a Presidência da ASBAP contando com a colaboração da psicodramatista argentina  Graciela Sepick, sua esposa, e permanieceu na presidência por 15 anos (1976-1991), ampliando nesse período as atividades de formação de psicodramatistas para Recife, Maceió, João Pessoa e Vitória da Conquista, na Bahia. 

A partir de 1991, a Associação Baiana de Psicodrama passou a ser dirigida por sucessivas gestões administrativas, permanecendo Waldeck como Presidente da Assembléia Geral, professor supervisor e terapeuta de aluno. A 2a. Presidente a assumir a Asbap foi a psicóloga psicodramatista Tani Pedreira, contando com a colega psicodramatista Maria Amélia Lira Gomes, na função de Diretora de Ensino e do psiquiatra Ailton Souza, como Diretor Administrativo e Financeiro. 

Em Salvador ocorreu, também, dissidências teóricas com Rojas-Bermúdez, no 1° Grupo de Formação da ASBAP, iniciado em 1976, o qual foi dissolvido em 1977, abrindo-se neste mesmo ano uma 2a.turma que aderiu ao Projeto de Curso, da mesma forma que as turmas seguintes. Da 1a. Turma extinta, fizeram parte Paulo Amado e Romélia Santos que posteriormente articularam a criação da Sociedade Baiana de Psicodrama e Sociodrama - SOPSBA, vinculada à SOPSP paulista, mantendo-se em Salvador como Instituição dissendente da Escola de Jaime Rojas-Bermúdez, por alguns anos.

A ASBAP continuou em funcionamento, adaptando-se às dificuldades de manutenção mediante Gestões bianuais, obtendo a colaboração dos seus associados, professores e colaboradores, tendo como mola mestra a disseminação da teoria Moreniana e da teoria de Rojas-Bermúdez. Aos poucos foi ampliando sua equipe formadora com profissionais formados na própria Instituição. Celebra, em 2021, 45 anos de atividades didáticas e comunitárias em Salvador, sendo atualmente a única Instituição de Psicodrama da Bahia.

A SOPSBA não teve o mesmo êxito e acabou sendo extinta por volta dos anos 2000. Porém, encontrou continuidade em Aracajú, cidade onde foi fundada a PROFINT - Profissionais Integrados, tendo à frente a psicodramatista Cybele Ramalho, formada pela SOPSBA, cuja linha de ensino mescla-se ao Psicodrama Junguiano e oferece formações em outras correntes psicológicas. 

 Em 1994, a psicodramatista socioeducacional e terapeuta de família Thereza Valladares (falecida em 2021), que concluiu a sua formação em psicodrama na 3a.turma da ASBAP, fundou outra escola de Psicodrama em Salvador. O  CEPS - Centro de Psicodrama e Sociodrama da Bahia, funcionou até a sua fundadora mundar-se para a Suiça, na década seguinte. Ao retornar para Salvador, Thereza Valladares permaneceu vinculada à Asbap como  fizeram os seus formandos, tendo em vista que o CEPS começou a funcionar em Salvador com a mesma equipe formadora da ASBAP e sob a mesma orientação teórica, mantendo-se ambas como instituições irmãs. Da equipe formadora da Asbap que atuou  no CEPS, participou Waldeck D´Almeida, Thereza Valladares, Maria Amélia Lira Gomes, Tani Pedreira, Leonídia Guimarães, Maria Lucia Machado, Rosana Rebouças e o psiquiatra  Geonaldo Fonseca, entre outros professores.

No Brasil, o Psicodrama desenvolveu-se com muita punjança e após o surgimento de vários centros de formação em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e outros estados, os líderes dessas escolas de psicodrama reuniram-se para concretizar a proposta de criação da FEBRAP- Federação Brasileirade Psicodrama, fundada em 1976, sob a Presidência de Içami Tiba, o primeiro presidente. A FEBRAP tem a função de integrar as diversas Escolas Brasileiras de Psicodrama como entidades federadas e regulamentar os currículos gerais de formação à teoria e prática psicodramática; realizar Congressos, Publicações e outros Eventos Culturais; e de validar a certificação oficial do título de Psicodramatista, de acordo com os critérios estabelecidos para o exercício profissional das graduações de origem: Foco Psicoterápico, destinado a psicólogos e psiquiatras; e foco Socioeducacional, para as demais profissões que trabalham com Grupos em contextos educacionais, institucionais, organizacionais e comunitários.  

Para saber mais sobre a história do psicodrama brasileiro, consulte o Site da Fedração Brasileira de Psicodrama e das diversas Escolas Federadas, cujos sites se encontram disponíveis em: www.febrap.org.br


 Referências Bibliografia 
Anzieu, Didier. (1981). Psicodrama Analítico, Rio de Janeiro: Campus
Guimarães, A. Leonídia. (1991). Fundamentação filosófica do psicodrama e prática psicodramática. Monografia. Seminários de Filosofia da Associação Baiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo, Salvador: ASBAP 
Fonseca, José (1980). Psicodrama da Loucura -Correlações entre Buber e Moreno,
São Paulo: Ágora
Marineau, F.René (1992). Jacob Levy Moreno- 1889-1974 : Pai do psicodrama, da
sociometria e da psicoterapia de grupo, São Paulo: Ágora
Moreno, J.L. (1983). Fundamentos do Psicodrama, 1ª ed. 1959,Vol.20,  São Paulo: Summus
Moreno, J.L.  (1978). Psicodrama, 2ª Ed. em Português, São Paulo: Cultrix
Rojas-Bermúdez, G. Jaime .(1970). Introdução ao Psicodrama, São Paulo: Mestre Jou

NOTAS:
1- Texto adaptado, extraído da minha Monografia de Avaliação da Disciplina Filosofia, ministrada pela Professora da UFBA. Eliana Barbosa
2- Em relação ao Ano de 1946, temos registros das atividades sociodramáticas realizadas pelo reconhecido sociólogo baiano Guerreiro Ramos, no Teatro do Negro, documentado pela psicodramatista paulistana Maria Celia Malaquias. 
3- Jaime Guillermo Rojas-Bermúdez é  psiquiatra, psicanalista e psicodramatista de origem colombiana, nascido em 26 de julho de 1926 em Tunja, pequena cidade localizada na Cordilheira Oriental dos Andes. Rojas-Bermúdez é bastante discreto quanto à divulgação da sua biografia, entretanto, sabemos que ele passou a infância em Bogotá e posteriormente radicou-se em Buenos Aires, cidade onde realizou seus estudos, formou-se médico e fincou raízes por longos anos. Depois mudou-se para a Europa, fixando residência em Sevilha, onde fundou a Escola Rojas-Bermúdez  Associación de Sicodrama e Sicoterapia de Grupo - ASSG,da qual participam várias Instituições de Psicodrama localizadas na Europa e América Latinavisando a produção de intercâmbio científico, publicações e Eventos anuais para manutenção da sua obra. A ASSG é liderada por uma equipe dirigida pela psicodramatista  Graciela Moyano, esposa e colaboradora de Rojas- Bermúdez e mantém até hoje  vínculo colaborativo com a Asbap . O Maestro sempre se manteve discreto quanto a sua biografia, mas sabemos que ele possui seis filhos, dos quais três possuem nomes de origem indígena incauca. pelo fato dele ter dedicado o seu livro Titeres y Sicodrama (1985) aos seus filhos Diana, Mariana, Atahualpa, Ximena, Arauco-Ayén e Ayelén Nehuén. Talvez seu gosto por nomes indígenas esteja vinculado  ao seu habitat de nascimento, visto que a Cordilheira Oriental dos Andes acolheu a Civilização dos Incas em toda a sua extensão, conforme dados da Wikipédia.
4 - Essas Notas foram acrescentadas, pela autora, na última atualização do texto realizada 06/03/2021.


Leonídia Alfredo Guimarães
Psicóloga baiana, formada pela UFBa em 1978. Psicóloga aposentada pelo Instituto Federal da Bahia - IFBA. Psicoterapeuta, desde 1987, com formações em análise reichiana bioenergética, psicanálise, caixa de areia e constelações familiares sistêmicas . Especialista em Psicodrama clínico e em Neuropsicologia, atua como Psicodramatista Didata 
Supervisora pela ASBAP/ FEBRAP.
Salvador-Bahia-Brasil
leoguimas05@gmail.com

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