Rascunho sobre Sexualidade com foco na Neurociência

A sexualidade, por uma questão de amadurecimento cerebral e hormônios, é despertada na adolescência pela sensibilização de neurônios, estimulada pelo estrogênio e testosterona. A influência dos genes e hormônios é fundamental para o interesse sexual, seja ele qual for, a partir da formação de algumas áreas do cérebro. Estas determinarão mais tarde a preferência sexual, depois de amadurecidas na adolescência, pelo sexo composto na maioria das pessoas ou pelo mesmo sexo em algumas. Logo se esse caminho se revela na adolescência, mas já vem desde a gestação, ele apenas é descoberto. HERCULANO-HOUZEL, Suzana. "O cérebro em transformação" (2005).


RASTRO SEXUAL
O comportamento [sexual] desencadeado depende radicalmente de como essa região [hipotálamo] é ativada. O hipotálamo dos homens heterossesuais responde fortemente ao feromônio feminino EST (estra-1,3,5(10),16-tetrae-3-nol), um derivado do hormônio estrogênio. A mesma região do cérebro das mulheres heterossexuais reage ao feromônio masculino AND (4,16-androestadie-3-nona), que deriva dos hormônios sexuais masculinos. Como era de se esperar, o AND aumenta a excitação das mulheres e diminui a dos homens quando ambos são heterossexuais.


Até algo tão fundamental como sentir-se homem ou mulher parece ser determinado pela biologia do cérebro. Ao examinar, em 2000, um grupo de 42 pessoas composto de homens e mulheres hétero, homo e transexuais, pesquisadores holandeses observaram um número duas vezes maior de neurônios no núcleo BST da via vomeronasal (receptor de feromônios ligado ao desencadeamento de reações fisiológicas no comportamento sexual ) nas pessoas que se identificavam como homens em comparação às que se identificavam como mulheres - independentemente do sexo biológico, da preferência sexual e do fato de terem sido ou não tratadas com hormônios sexuais.
IDEM. "Entre iguais" (Revista Mente e Cérebro, Edição Especial nº 10 - 'A Trégua dos Sexos').

Numa definição mais ampla, feromônios são usados pelas mais variadas espécies para unir gametas, promovendo o encontro dos seres que os transportam. O esquema é engenhoso: cada indivíduo produziria o feromônio característico da sua espécie, na versão "homem" ou "mulher", dependendo do tipo de gameta, e esse feromônio surtiria um efeito avassalador sobre o cérebro de indivíduos do sexo oposto. Portadores de gametas de um e outro tipo então se aproximariam, passando pela versão de paixonite aguda possível àquela espécie, e acabariam por, digamos, colocar seus gametas em contato. Todos os feromônios são voláteis: entram pelo nariz, onde são detectados pelo órgão vomeronasal (e não pelo epitélio olfativo, razão pela qual não têm cheiro detectável), e esse órgão encaminha a informação ao hipotálamo.
Nos homens heterossexuais o hipotálamo responde fortemente ao feromônio feminino EST. Nas mulheres, o hipotálamo responde ao feromônio masculino AND.
Ocorre então uma cascata de eventos na amígdala, no córtex cerebral e no sistema de recompensa, entre outros, que provocam excitação sexual e fazem com que se busque o dono ou dona do feromônio que ativou o hipotálamo. Eles
preferirão se aproximar delas, e elas, deles - sem saber que tudo começou no nariz.
Segundo os estudos suecos, no entanto, nem todo hipotálamo masculino responde a feromônios femininos, e nem todo hipotálamo feminino prefere feromônios masculinos. A resposta do hipotálamo concorda não com o sexo da pessoa, e sim com sua preferência sexual.
O que cada um faz com a sua preferência sexual já é outra estória, esta sim uma opção, que lamentavelmente deve levar em conta todas as dificuldades psicológicas que a discriminação traz. Mas, até onde se sabe, para a neurociência a preferência sexual é biológica, e não psicológica. Tentar mudá-la é como insistir que uma pessoa troque a cor da pele ou se torne mais baixa. É inviável, é inútil e é injusto.
Suzana Herculano-Houzel (*)
(*) Ph.D. em Neurociência pela Universidade Paris 6 e docente da Universidade Federal do RJ.
(Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, e debate a se considerar "Encontro de Araraquara". Edição 2 de julho - A32 - para reflexão

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