Registros, Memórias e Reflexões do Grupo Abordagens Contemporâneas sobre o Eu: Quem sou eu na linha do tempo


Registro Histórico do Congresso Processual de Psicodrama 2009-2010

Proponentes do Grupo: Leonídia Guimarães (Salvador – BA) e Milene Féo (São Paulo –SP)
Criação e Coordenação: Leonídia Guimarães

Membros Participantes do Ciclo Conexões: Amélia Coppel (Sevilha-Espanha), Elisabete Brandão (Vitória da Conquista -BA), Maria das Graças Carvalho Campos ( Belo Horizonte -MG), Maikon Dias (Balneário de Camboriu - Santa Catarina) e Silvana Cristina Sardá (Nova Trento- Santa Catarina).
FÓRUNS INTERNOS DO GRUPO ABORDAGENS 

Para as reflexões internas abrimos vários tópicos de Discussão em Fóruns Internos:  (1)Quais as suas dúvidas sobre o Núcleo do Eu; (2) Conexões entre Psicodrama, Neurociência e Autopoiese; (3) Método AGRUPPA: Eus-pessoais e Eus-grupais; (4) Psicodrama e Visão Emergentista da Personalidade; (5) Pensando Abordagens: Reflexões sobre o Eu e o Tempo; (6) Projetos Em Cena; (7) Contraponto entre as idéias de Nietzsche, Psicodrama e Neurociência.
FÓRUM PÚBLICO: PSICODRAMA EM TEMPOS DE CONEXÕES COM A NEUROCIÊNCIA E AUTOPOIESE – UM OLHAR SOBRE O EU  


DESENVOLVIMENTO

Iniciamos nossas atividades no Congresso Processual com  a abertura  do Fórum Público Abordagens Contemporâneas sobre o Eu: Quem sou eu na linha do tempo? Que deu nome ao nosso Grupo de Reflexão, criado em Junho de 2009 e encerrado em agosto de 2010, um pouco antes de seguirmos para Lindóia (03 a 07/09/2010). Concluimos assim o Ciclo Conexões do Congresso, após intensas conversas mantidas em Fóruns internos. Durante este processo de aprofundamento e reflexão, produzimos e postamos vários textos sobre o tema em foco, dentre os quais alguns que foram enviados e selecionados para o Ciclo Publicações do Congresso como: Além do percurso da sombra- Um olhar sobre o Eu (Leonídia Guimarães); Conexões: Psicodrama, Neurociência e Teoria do Núcleo do Eu (Elisabete Brandão); Imagem, Metáfora e Psicodrama (Amélia Coppel); As expressões do eu e o desempenho de papéis na contemporaneidade (Leonídia Guimarães, Graça Campos, Maikon Dias e Silvana Sardá); Psicodrama e Sexualidades Contemporâneas (Maikon Dias, Graça Campos, Leonídia Guimarães e Silvana Sardá); Axiodrama- Uma possibilidade de resignificar o tempo e a impaciência na pós-modernidade (escrito por Graça Campos, Silvana Sardá, Maikon Dias e Luciana Elisa Cunha, após a realização do Congresso).  

A partir daí nos multiplicamos em atividades distintas durante o 17° Congresso, conforme se vê a seguir:

(1)    Atividade Transformações: VIVÊNCIA DE PSICODANÇA COM IMAGENS - QUEM SOU EU NA LINHA DO TEMPO? Equipe: Amélia Coppel (Direção), Leonídia Guimarães e Elisabete Brandão (Ego-auxiliares).  Seguida de DEBATES SOBRE O EU-DESEMPENHO DE PAPÉIS NA CONTEMPORANEIDADE. Equipe: Leonídia Guimarães (Coordenação), Amélia Coppel, André Dedomênico e Elisabete Brandão (Debatedores), Maikon Dias e Silvana Sardá (Articuladores), Flávia Gomes (Registradora).

(2)    Atividade Livre: VIVÊNCIA AXIODRAMÁTICA – TEMPO E IMPACIÊNCIA. Equipe: Graça Campos (Direção), Maikon Dias, Silvana Sardá, Juliane Saborido  e Regina Pinto(Ego-auxiliares), Luciana Cunha e Solange Junqueira Guimarães (Registradoras), Fernando Abrão e Tereza Cristina Kalil (Articuladores), Marcia Bernardes  (Coordenação do Processamento).


MEMÓRIAS E REFLEXÕES

Neste grupo o objetivo traçado foi produzir reflexões sobre o Eu no contexto da Socionomia, em suas conexões com os Tempos Modernos, as Neurociências, as concepções teórico-práticas do Núcleo do Eu - Esquema de Papéis de Rojas-Bermúdez e a Abordagem Multidimensional do Indivíduo desenvolvida por Milene Féo, dentro da visão de eus-parciais e eus-grupais. A adoção desta ultima proposta não foi levada ao Ponto de Encontro uma vez a proponente precisava concentrar-se prioritariamente no papel de Presidente do 17°Congresso. O que dificultou o aprofundamento das discussões teóricas sobre a abordagem do método AGRUPPA e, consequentemente, a não realização da prática desta abordagem no Ponto de Encontro.

 DAS DISCUSSÕES PRODUZIDAS

Em 2009, de junho a dezembro, nossas reflexões estiveram centradas nas conexões da teoria do Núcleo do Eu com as neurociências e a autopoiese. Mantivemos a maior parte dessas discussões no Fórum Público, usando o Grupo de Reflexão apenas para manter contatos e  atender outras demandas  específicas como o planejamento e organização de atividades para o Ciclo Em Cena, no qual inscrevemos duas atividades sob a direção de Silvana Sardá e  supervisão da Coordenadora do Grupo por se tratar de psicodramatista iniciante. Silvana Sardá realizou em Nova Trento, dois Sociopsicodramas sobre a Impaciência na pós-modernidade.

 Após as férias de Janeiro 2010 o Grupo passou a receber novos integrates e aos poucos começamos a ampliar o foco das discussões, abrindo diferentes tópicos para aprofundamento. Muitas reflexões foram produzidas nesses fóruns internos, principalmente no Pensando Abordagens: Reflexões sobre o Eu e o Tempo, proposto pela coordenação. Refletimos intensamente sobre esta nova temática, ao longo de seis meses.

Neste fórum muito se pensou sobre os relacionamentos contemporâneos entrelaçados à própria subjetividade dos participantes envolvidos e, também, quanto ao papel de psicoterapeutas responsáveis pela atenção à saúde emocional e relacional de indivíduos, adolescentes, pais e filhos, famílias, namorados e amantes.

Em relação às expressões do eu-desempenho de papéis na pós-modernidade, discutiu-se seus efeitos na constituição de novos parâmetros relacionais, colocando-se como pilar balisador a institucionalização de uma ética sem raízes que acabou instituindo significativas transformações nos valores socio-culturais vigentes, éticos e estéticos, principalmente a partir dos anos 70-80, marcando o final do século XX com a disseminação de vinculos cada vez mais passageiros, frouxos, sem compromissos pessoais com o antes, durante e o depois. Concordamos que esses novos parâmetros relacionais passaram a fluir em direções multiplas ao questionar o certo, o antiético ou amoral, resultando daí muitas ambiguidades e incertezas presentes nas relações atuais.

Posteriormente algumas pessoas se interessaram em aprofundar esta questão, pesquisando sobre os fenômenos da pós-modernidade em Bauman e outros autores contemporâneos. No entanto, permanecemos coesos em nossas reflexões incautas, basicamente motivadas em abrir canais para a compreensão de certas experiências vividas pelo grupo, abrindo brechas para pensar sobre qual seria a lógica da fluidez nas relações humanas e as ambiguidades presentes nesses vínculos, buscando descobrir por que se desistiu de construir relações  duradouras baseadas no aprofundamento das relações interpessoais?  

EFEITOS DA PÓS-MODERNIDADE NOS RELACIONAMENTOS

Como marco das incertezas geradas pela fluidez nos relacionamentos pinçamos o fenômeno  amores líquidos (expressão cunhada por Bauman) para levar ao Ponto de Encontro , ladeado às indefinições de papéis (sociais, sexuais, complementares),  bem como ao esgarçamento nas relações familiares e interpessoais que geram ansiedades de contato atravessadas pela potencialização de persecutoriedades relativas à (im)possibilidade de gerenciar as chamadas relações descartáveis, ambíguas e/ou ficcionais. Maikon Dias e Silvana Sardá ficaram responsáveis pelo aprofundamento e apresentação desta discussão durante os debates, no Congresso.  A partir daí, pode-se enriquecer as reflexões do Grupo para a compreesão do decrescimo nos investimentos interpessoais, muitas vezes substituidos por amizades virtuais e redes sociais públicas, por exemplo, para não falar-se do consequente aumento do uso de drogas e da violência urbana. Na contramão dessa história, fugindo às normas vigentes, teríamos uma “velha guarda” composta de adultos e jovens adolescentes que ainda estariam lutando e se disponibilizando a aprofundar seus relacionamentos romanceando amores eternos mediante entregas recheadas de afetos e ilusões efêmeras, ameaçadas pela desilusão e  abalos na  auto-estima, típicas  de rupturas recheadas de amor romântico.

Além dessas questões contemporâneas, discutimos sobre o uso do avatar no psicodrama, seus   riscos no mundo virtual, qual seria o sentido ou interesse em validar a ocultação de identidades pessoais, qual seria a ética dos sujeitos que passam por outras pessoas nos grupos virtuais, dos que usam nick names para salvaguardar-se ao contato direto, incentivando de certa forma a criação de vínculos ficcionais, muitas vezes nocivos ao outro.

Paralelo a tudo isto, pensamos o ser humano na condição de existente e parte da Natureza, indiretamente sendo agredido ao ser atravessado pela agressão ao seu ambiente natural, sofrendo os reflexos da ingerência humana descomprometida com a subjetividade e o amadurecimento saudável do ser-estar-compartilhar e viver o próprio processo de individuação e crescimento pessoal.

Enfim, todas as reflexões aqui descritas foram produzidas após lançarmos para discussão, no fórum Pensando Abordagens, o sentimento de impaciência. Impaciência subjetivada, presente no grupo e não surgida como reflexo dos tempos atuais ou de bibliografias consultadas, mas antes, da ansiedade manifesta gerada pela incompletude vincular, tanto em termos de presença-ausência no outro como na capacidade de levar material específico e participar ativamente das discussões propostas. Uma Impaciência transformada em tema protagônico, ou vice-versa.  Como exemplo citamos o personagem Fênix que resolveu desligar-se do grupo Ning após travar uma polêmica discussão no Grupo, no intuito de obter revelações dos colegas sobre possíveis ocultamentos identitários.  Lançada a questão, coube ao grupo delinear o confronto entre vínculos reais e ficcionais, pensando-se como possível lócus da impaciência a fome de atos e o desempenho de pseudopapéis como fragilizadores da potência relacional do ser humano na delimitação de seus próprios tempos, espaços e territórios, principalmente no que se refere à banalização dos sentimentos e demais aspectos de âmbito pessoal, sobrepostos aos interesses sociais e profissionais vigentes.

DESDOBRAMENTO DAS DISCUSSÕES

Após discutir-se o entrelaçamento deste fenômeno grupal com o tema em discussão, foi  lançada a proposta da realização de um Axiodrama durante o Congresso, para aprofundamento, tendo como tema  o sentimento de Impaciência nos Tempos Modernos.  Esta proposta foi aceita pela maioria dos participantes e posteriormente efetivada por Graça Campos, Silvana Sardá e Maikon Dias, durante o Congresso.

 A proponente e coordenadora do Grupo Abordagens optou por manter os propósitos iniciais de criação do Grupo, insistindo em realizar durante o Congresso uma Vivência de Psicodança sobre o Eu-desempenho de papéis na linha do tempo, conforme o planejado na abertura do Grupo. Das discussões aproveitamos o conteúdo para registro e elaboração do Ensaio Científico   Abordagens sobre o Eu e Desempenho de Papéis na Contemporaneidade.

Nos demais tópicos abertos para discussão interna, conversamos sobre as bases filosóficas do Psicodrama; noções  filosóficas do  pensamento de Nietzsche, Heidegger e Foucault;  a filosofia espiritualista de Leslie Temple, que segue em busca da Paz-Ciência reconduzindo o Self para a união das suas polaridades consciente-inconsciente, transcendendo a ilusão cartesiana de separação mente-corpo, espírito e matéria; e sobre algumas noções mais específicas trazidas pela neurociência como  a descoberta de que o nosso cérebro  funciona paralelamente  mas sempre em conjunto, como uma grande orquestra cuja música é tocada em uníssono, gerando sensações, imagens, memórias, comportamentos, sentimentos e emoções que seguem os seus próprios percursos em busca do equilíbrio e bem-estar.

Embora esta seja uma questão bastante polêmica em nosso meio psicodramático e, diga-se de passagem, inteiramente parcial, pontual, incompleta ou até mesmo utópica, acredito sim que este equilíbrio perseguido pelo cérebro à mercê de suas complexas relações com a mente humana possa guardar alguma semelhança em relação aos acontecimentos vividos no Grupo Abordagens, malgrado alguns dissabores experimentados durante o processo de subdivisão do Grupo. Certamente esta subdivisão era necessária para a realização de diferentes trabalhos, sob a batuta de enfoques filosóficos e teórico-práticos distintos. Desta forma, ao funcionar paralelamente, o Grupo pôde orquestrar com maestria diferentes partituras arquitetadas pelas singularidades do Psicodrama proposto por J.L. Moreno e J.G. Rojas Bermúdez.

OUTROS REGISTROS

(1)   No BLOG do Ning publicamos sobre dois temas discutidos internamente no Grupo Abordagens: (1) CONVERSANDO SOBRE OS MITOS E PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO; (2) O QUE É PSICODANÇA.

(2)   Registros em Vídeos

- Vivência de Psicodança com Imagens: Quem sou eu na linha do tempo



- Debates Transformações: As expressões do eu-papéis na linha do tempo


- Vivência Axiodramática: Tempo e Impaciência


 
Leonídia Guimarães,
Coordenadora do Grupo Abordagens Contemporâneas sobre o Eu: Quem sou eu na linha do Tempo – Congresso Processual de Psicodrama 2009-2010.

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