IMAGENS PSICODRAMÁTICAS

Imagens Psicodramáticas

 Por Jaime Rojas-Bermúdez



Tradicinalmente, o psicodrama esta fundamentado em uma linha relacionada com as emoções. a catarse, as relações interpessoais, etc. e a base da cura tem sido alcançada pelo ganho da espontaneidade. Nosso enfoque, parte da linha clinica em geral e especialmente do tratamento de pacientes psicóticos, tem se movido em outra direção: inicialmente para o estudo da utilização de objetos em psicoterapia psicodramática (objeto intermediário e intaintermediário), depois a compreensão da estrutura da personalidade (esquema de papéis-núcleo do eu); e em seguida para as imagens e sua importância fundamental no processo de adoecer e  por conseguinte na tarefa terapêutica.

A imagem psicodramática é uma forma construída pelo paciente sobre  o Cenário, que expressa em sua configuração a visão do indivíduo, o sentido e significado que certos fatos e experiências tem para ele, os elementos que enfatiza e omite e a mútua relação entre esses elementos que compõem a imagem (estrutura). Por esta razão, a imagem tem um significado particular para ele. É similar a 'uma parte dele", são os conteúdos internos colocados para fora.

Um dos principais objetivos da construção de imagens é precisamente a possibilidade de observação por parte do protagonista (autor) e por parte do diretor (e grupo, se houver) sobre esta estrutura, as conexões entre diferentes elementos e a investigação de seus significados.

Ao construir uma imagem estamos fazendo na vigília, um processo que se dá naturalmente durante o sonho (imagens oníricas): é a síntese e a concretização do conjunto de diferentes ideias, experiências, sensações, emoções, etc. dentro de um esquema visual.   

Esta técnica favorece objetivar partes do mundo interno do indivíduo e ao mesmo tempo, dá lugar ao fenômeno de re-aferência, que desencadeia em novas reações e experiências relacionadas ao material apresentado. Constantemente, também, dá lugar a respostas emocionais devido à mobilização interna. Realizar as imagens com tecidos de cores diferentes ou com pessoas, depende da situação específica e do tipo de material psicológico envolvido.

No trabalho terapêutico, temos tido a oportunidade de observar o poder e a riqueza das imagens para concretizar aspectos em relação à organização mental  do indivíduo e à efetividade dessa técnica no processo psicoterapêutico.

Essas observações corroboram com os resultados das investigações sobre a atividade dos hemisférios cerebrais de campos relacionados como as pesquisas realizadas por Van Wagenen, W. (1940); Wada, T. Clark, R. Rasmussen, T. (1970); Kimura, D. (1967); Sperry, R.R.W. (1968); Gazzaniga, M.S. (1970); Le Doux, J.E. (1977); etc. e  apoia a ideia de que o trauma psicológico - e provavelmente, outras desordens mentais em que a ansiedade desempenha função importante - provoca respostas cerebrais desbalanceadas ou emaranhadas (Rauch, L.S., 1996).

Em resumo, as descobertas afirmam o papel preferencial do hemisfério direito sobre a ansiedade e outras emoções adversas - particular da amígdala e do córtex secundário - enquanto que o hemisfério esquerdo, especialmente a área de Broca¹, é desativada em situações traumáticas.

¹. A área de Broca - relacionada à área de Wernicke - foi descoberta pelo neurocirurgião francês Paul Broca, é a região responsável pela produção da linguagem. Pessoas com disfunção nessa área conseguem entender a linguagem mas não conseguem produzi-la (o autor faz referência à dificuldade de expressão verbal, nota da tradutora)).

Talvez valha a pena recordar que a atividade do hemisfério direito, consiste primordialmente, em imagens (espacial, simultânea) e que a atividade verbal e de ação (temporal, sucessiva, linear) depende mais do hemisfério esquerdo.

Disso podemos deduzir que a construção de imagens favorece a comunicação cerebral inter-hemisférica: 1) ao fazer a imagem no cenário:

 imagem / hemisfério direito     ⇛⇛⇛⇛       ação / hemisfério esquerdo

2) depois, ao explicar a imagem, dar-lhe um nome, realizar os solilóquios, etc.

imagem/hemisfério direito        ⇛⇛⇛⇛      palavras / hemisfério esquerdo

Com a materialização da imagem mental no Cenário, consegue-se por um lado sua objetivação e por outro lado, sua re-aferência. Dessa maneira, a imagem mental objetivada facilita sua compreensão e elaboração.

As imagens psicodramáticas implicam um processo de síntese, integração e organização espacial que delimita um esquema de relações   entre suas partes, resultando em uma espécie de "mapas mentais" da experiência em um momento determinado - a imagem pode representar, segundo o indicado pelo terapeuta (consigna) uma situação, um conflito, um sintoma, um sentimento, partes do corpo, etc.

Este "mapa" nos ajuda a nos orientar com respeito ao paciente, acerca de quais são os conteúdos realmente significantes para ele, e ao mesmo tempo, nos assinala uma referência firme e estável para abordar o material.

Além desse tipo de material, as imagens são especialmente apropriadas para a abordagem psicoterapêutica de temas relacionados com o corpo: desordens psicossomáticas e orgânicas, problemas alimentares - anorexia, bulimia, alucinações relacionadas com atividades corporais, sintomas conversivos, hipocondríacos, etc. e também em situações que implicam envolvimento corporal (agressiva e sexual).

Na atualidade contamos com um elaborado e amplo "corpus" de trabalho psicoterapêutico psicodramático centrado em imagens: construção de imagens, construção de máscaras, de silhuetas, imagens intermediárias, etc.

Nossa preferência pelas imagens psicodramáticas sobre os desenhos e as pinturas se baseiam , além de outros aspectos práticos, em duas características relevantes: 1) a participação de todo o corpo, que permite contornar a pinça dígito polegar² - que é a base para a grande quantidade de aprendizagens culturais); 2) permite uma menor crítica pessoal. Nos desenhos e pinturas, o conhecimento de critérios estéticos são mais difíceis de evitar, tanto ao realizar o desenho quento ao observar a produção
.
². o autor faz alusão à possibilidade de fechar o punho, em imagens com pessoas, para conter  emoções de raiva (nota da tradutora).

Fonte: PSYCHODRAMATIC IMAGES IN SUPERVISION. In Psychodrama Training. A European View. FEPTO. Pub. Leuven. Belgium: 1999
Publicada no Boletim da Asociación de Sicodrama y Sicoterapia de Grupo - ASSG. Jornada Interna de Psicoterapia Psicodramática. Faculdade de Psicologia, Universidade de Sevilha, 20/11/2004.

Tradução (2020): Leonídia A.Guimarães




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